Atravessar a vida com sabedoria
“O que chamamos de começo é sempre o fim. E fazer um fim é fazer um começo. O fim é de onde começamos.” T.S.Elliott,The four Quartets”
O tempo passa para todos nós.Tenho tido o prazer de conviver com mães de amigas que estão no pós 80 e chegando aos 100 anos. Tenho admirado e redimensionado as minhas ideias, conceitos e percepções sobre este novo tempo, até porque também já passei de meio século. Há muita vida e muitos jeitos de ser refletidos nos ciclos de vida.
Venho tendo encontros interessantes com estas mães. Observo que algumas são bem criativas e alegres com a vida que conquistaram e com as boas relações afetivas. Independentes, satisfeitas com a convivência familiar e com os grupos que convivem. Sempre uma boa história para contar.
A minha geração vive uma expectativa com o envelhecer dos pais. Estamos construindo com eles uma nova forma de viver. Mas observo que existem detalhes que alimentam a travessia e que quando mantidas afetivamente fazem toda diferença.
Acompanhei uma amiga que foi visitar a mãe no interior de São Paulo. Passamos uma tarde com Néia e suas duas irmãs. Sempre estiveram juntas em muitas situações da vida: juventude, casamentos, nascimentos dos filhos, viuvez, muitas festas e muitas dores que foram superadas com muito amor e disposição. E os amigos sempre incluídos nesta empreitada chamada vida.
E hoje elas vivem despedidas constantes de suas memórias, confundem pessoas, contam histórias atrapalhadas, criam situações, mas não perderam a alegria do encontro entre elas, com as visitas dos filhos, sobrinhos, netos e amigos.
Morar no interior de São Paulo contribui para ter uma casa circulante. A familia gosta de estar presente e proporciona essa referência para elas. Diariamente, uma sempre está na casa da outra. E os filhos e primos participam destes encontros dentro do horário que é possível.
Contam com duas cuidadoras, que também esperam por estes encontros, preparando carinhosamente uma mesa saborosa.
O destaque é para essência do afeto e do sentido da vida dessas mulheres e da capacidade dos filhos e sobrinhos de contribuirem para sustentar os encontros. Foi gratificante perceber quanta alegria foi manifestada com a nossa chegada, o quanto foi ativada a memória histórica e amorosa com a identificação de cada visitante e, a cada despedida, surgia a necessidade de reafirmar o compromisso já agendado para o dia seguinte.
A memória presente está no compromisso da alegria de viver.