Por que essa geração é assim?
Convivo com jovens com vontade de ser grande há algum tempo e observando-os percebo que é uma geração muito preparada e ao mesmo tempo muito despreparada. Vou explicar! Preparada porque sabe lidar com os recursos tecnológicos de forma brilhante. Muitos deles já tiveram oportunidade de viajar e conhecer boa parte do mundo. Despreparada porque são extremamente frágeis em matéria da vida. Sofrem! Sim, sofrem! Sofrem porque é uma geração que foi ensinada a acreditar que nasceu com o patrimônio da felicidade.
Há um grupo de jovens de classe média que estudou em bons colégios, fala fluentemente uma ou mais línguas estrangeiras, tem acesso à cultura e à tecnologia, mas cresceu com a ilusão que a vida é fácil e foi ensinada a pensar que merece seja lá o que for. Hoje crianças e jovens têm a oportunidade de ganhar de tudo sem ter de lutar por quase nada de relevante. Não sabem que para conquistar algo é preciso muito esforço.
É comum ver pais angustiados porque querem garantir a felicidade dos filhos. Parecem que são sempre devedores e acham que frustrar filhos é sinal de fracasso pessoal.
Sabemos que não é possível viver sem sofrer e felicidade não é um direito.
Muitos jovens ao descobrir que a vida não é como os pais tinham lhes prometido, emburram, desistem e sofrem terrivelmente. É nessa hora que se percebe que os filhos não foram preparados para lidar com a dor e as decepções e nunca imaginaram que viver é ter de aceitar as limitações que a vida impõe.
Viver é complicado sim! Sem dúvida! Se a relação pai e filho está construída sobre a ilusão da felicidade e completude, só resta fingir. Aos filhos cabe fingir felicidade e exigem coisas (as materiais são mais fáceis de alcançar). Pais fingem garantir a felicidade e fazem de conta que dão o que ninguém pode dar (objetos de consumo).
E é assim o funcionamento do jogo! Resultado: pais e filhos angustiados.
Seria muito bom que os pais de hoje entendessem que dizer “Se vira! Você pode contar comigo, mas essa briga é sua!” ajudará a esses jovens a descobrir que é responsabilidade deles conquistar um espaço no mundo e sem garantia nenhuma. Fazer escolha exige coragem. Seja a escolha de lutar pelo desejo, seja a de abrir mão dele. E se não der certo, não vale procurar culpados porque não deu certo e não vale transferir para o outro a responsabilidade pela desistência. Isso sim é virar gente grande!
Esse artigo é uma releitura do texto “Meu filho, você não merece nada” da jornalista, escritora e documentarista Eliane Brum.