E por falar em conflito…
Conversando com Educação convida para ler o artigo “Uma preciosa ferramenta para enfrentar conflitos” de Telma Vinha.
Em uma escola, assim como na sociedade, convivem pessoas com valores, expectativas e interesses diferentes. Então, é natural que conflitos aconteçam. Para resolvê-los, cada envolvido se comporta de uma forma. Alguns tentam impor sua vontade, enquanto outros recorrem ao “deixa pra lá”. Segundo o estudo Moral e Ética: Dimensões Intelectuais e Afetivas, de Yves de La Taille, docente do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP), 90% dos adolescentes acreditam que essas situações são resolvidas mais com agressão do que com diálogo. Já outras pesquisas evidenciam que os alunos tendem a ser submissos à vontade do outro. Essa estratégia pode parecer pacífica, mas acaba sendo boa só para um lado.
O diálogo, que é quando as partes reconhecem que existe um problema e tentam negociar a solução, é a melhor saída nessas circunstâncias. Porém, nem sempre as pessoas conseguem chegar a ele espontaneamente. Aí é necessário o auxílio de um terceiro. No contexto escolar, o círculo restaurativo, um procedimento institucional de mediação inspirado na justiça restaurativa, se mostrou uma ferramenta eficaz para conciliações.
Funciona assim: depois de um conflito, as partes são ouvidas individualmente por alguém com a função de mediação. Discute-se o ocorrido, as causas e as consequências. É a chamada fase pré-círculo. O círculo em si é um encontro entre os envolvidos com o mediador e, se as partes julgarem necessário, com uma rede de apoio (amigos ou pais, por exemplo). É a chance de cada um dizer o que aconteceu, falar o que sente, assumir responsabilidades e chegar a um acordo, firmando compromissos de resolução e de reparos satisfatórios aos dois – ou seja, construindo um plano de restauração. Um mês após esse momento, os envolvidos avaliam, juntos, o andamento do acordo. É o chamado pós-círculo.
Essa estratégia pode ser solicitada por um dos envolvidos ou por convite de outra pessoa (como um professor), e deve ocorrer em um local em que haja privacidade. O mediador precisa ter postura discreta e serena para conduzir os participantes a buscar, por eles mesmos, a solução mais adequada. Para isso, deve incentivá-los a entender a perspectiva um do outro, ser descritivo ao falar do fato, não fazer juízos de valor nem demonstrar discordância. O foco deve ser o incidente e os afetados, não a punição ao ofensor.
Para nortear o diálogo, quem conduz pode se valer de algumas perguntas, como: “O que houve?”, “O que você estava pensando ou sentindo na hora?”, “Quem foi prejudicado e de que forma?”, “Como reparar os danos ou melhorar as coisas?”, “De que modo evitar o incidente outra vez?”
É válido, ainda, ensinar os alunos a se colocar em primeira pessoa (eu me sinto”), especificar o sentimento (“humilhada”), identificar o que causou o problema (“quando você fala mal de mim”), relatar o efeito disso (“porque não tenho como me defender”) e dizer o que queria que ocorresse (“gostaria que você conversasse comigo antes”).
Nesse procedimento, a lógica punitiva é substituída pelo diálogo e pela restauração das relações. Vale lembrar um último ponto: para que o círculo seja efetivo, os princípios que o norteiam devem ser vividos no cotidiano escolar.
Por Telma Vinha
Revista Nova Escola Ano 31 Número 291 Abril 2016